Telhados*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 6 de Janeiro de 2006


1. Numa entrevista ao JN, publicada em 26 de Dezembro, Cavaco Silva, a propósito da deslocalização, disse que “(…) Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal e, de vez em quando, fosse falar com cada uma (…) deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa.” O jornalista perguntou-lhe então se ia propor a ideia ao governo. “Já o estou a propor aqui.” – respondeu Cavaco.

Embora bem intencionada, a ideia é má. Mais burocracia só iria atrapalhar o investimento estrangeiro. Mas uma ideia má, ou uma gaffe, toca a toda a gente. O que veio a seguir é que foi revelador.

2. No dia seguinte, à saída duma reunião com a ACAPO, Cavaco desdisse-se: Eu não sugeri a criação de um secretário de Estado nem defendi a criação de nenhuma Secretaria de Estado.

O Presidente da República é a válvula de escape da nossa democracia e é particularmente necessário em alturas de crise. Por isso, o Presidente da República deve ser um homem frontal e de coragem. Cavaco não o é. Ao primeiro tropeção, começa logo a meter os pés pelas mãos.

3. A candidatura do ministro Correia de Campos à Assembleia Municipal de Viseu foi um erro. 

O PS local perdeu autonomia estratégica e tem que defender o governo, quer este se porte bem ou se porte mal com Viseu. O PSD ficou com a sua tarefa facilitada. O Dr. Ruas só precisa de sublinhar as clivagens, reais ou imaginárias, entre Lisboa e Viseu.

Para além do que fica dito, depois do que aconteceu na última Assembleia Municipal, pergunto: era mesmo necessário, às cabeças falantes do Grupo Parlamentar do PS, acartarem tanto vidro para os telhados?

4. Um bom 2006 para todos.

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