Ligeirezas*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro



1. António Costa, mal assumiu a liderança socialista, pôs o partido a reabilitar a herança e a figura de José Sócrates. Esta estratégia só foi autoclismada quando aconteceu a prisão do ex-primeiro-ministro.

Se não estivesse onde está, Sócrates neste momento era candidato à presidência da república e António Costa teria feito o papel de “idiota útil” ou, pior ainda, de cúmplice dessa candidatura.

Agora, com Sócrates detido e Guterres, Gama e Vitorino “desistidos”, António Costa não diz nada sobre presidenciais. Mas há sinais que ele se prepara para passar um cheque-em-branco a António Sampaio da Nóvoa, um candidato de quem, apesar de já ter 60 anos, não se conhece pensamento ou acção política, tenha sido ela partidária ou cívica. Um enigma que, nos seus bem escritos e bem lidos discursos, não tem ido além de umas amenidades polvilhadas de citações de Zeca Afonso e Sérgio Godinho e Sophia.

António Costa ainda está a tempo de evitar tamanha ligeireza para não dizer irresponsabilidade. Na área socialista há um homem capaz de disputar as eleições a Rio e Marcelo. E, mais importante ainda, um homem que, se chegar a Belém, dá a certeza aos portugueses de que irá ser um presidente moderado, competente e responsável. Chama-se ele Guilherme d'Oliveira Martins e é o actual presidente do Tribunal de Contas, uma das poucas instituições do estado que merece o reconhecimento dos cidadãos.

2. Tremam, editores da Visão
Arreceiem, jornalistas da Sábado
Paniquem, homens da The New Yorker

António Almeida Henriques vai entrar no negócio. Vai editar uma revista municipal.

E registe-se: esta revista trimestral de distribuição gratuita vai só custar mais sete mil euros que o último orçamento participativo. Uma ninharia. Vão ser 82 mil euros supimpamente aplicados.

Perante tanta ligeireza, tanta festa e festinha a que agora se vem acrescentar o "papel-couché" revisteiro, o dr. Ruas só pode andar muito divertido.

Comentários

  1. I am in need of music, para Costa e Henriques:
    “Tu que tanto prometeste no tempo em que não podias, agora que tens poderes não cumpres o que prometias!” - António Aleixo.

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  2. Não sei que te diga, caro amigo.

    Não é de estranhar que as sondagens sejam embaraçosas para Costa. O eleitorado começa a preferir o original (Passos) à cópia e, para os que preferem esquecer, há sempre os Blocos, os Livres, o PCP e essa figurinha Chavez/português, de nome Marinho. Há vida na esquerda para além do Bloco e do PC, e acresce que estes dois, são simplesmente de protesto e nada adiantam às nossas vidas. Como diz o anúncio: ”E se de repente o “povo” lhes oferecer (à coligação) a maioria?”

    Estamos irremediavelmente prisioneiros de teias de interesses obscuros, de classe e de família, que só um cataclismo social virá, mais tarde ou mais cedo, destruir. O eleitorado tem dúvidas quando: “Mário Centeno, o coordenador do programa macroeconómico do PS, vai ser mesmo orador convidado na Conferência Internacional sobre os Jovens, organizada pela Presidência, no âmbito dos Roteiros do Futuro”. Começa a ficar provado que Centeno é uma carta do mesmo baralho. Está já a fazer o tirocínio para ser o Vítor Gaspar do PS, numa versão recauchutada. Bem vindos ao neo-neo-realismo pós 25 de Abril...

    Quanto a Sampaio da Nóvoa tem boas hipóteses de ir à segunda volta. Mas quanto a ser eleito Presidente já as perspetivas são bem diferentes. Nóvoa tem que concitar mais apoios e o entusiasmo. Somam-se indícios de que a candidatura em causa se está deixar envolver em algumas ambiguidades estruturais. Por exemplo, afirma-se como impulso regenerador da vida politica e sente-se confortável com o apoio do PS, mesmo que ele não seja resultado de primárias; afixa uma imagem de independência, mas coloca-se na fila dos ex-presidentes que são militantes do PS como se fizesse parte dela; tenta sugerir-se como fator de congregação das esquerdas, mas revela-se cético quanto à perenidade da clivagem esquerda direita; omite no seu discurso qualquer tonalidade crítica do sistema capitalista, mas assume objetivos que entram em colisão com a perenidade desse sistema; afixa uma independência altaneira em face dos partidos, mas esforça-se por sugerir o apoio tácito do PS.

    Podendo parecer subtil, o PS parece ter-se deixado apanhar numa ratoeira. Deixa que pareça ter tido que engolir um candidato que veio de fora e não pode assumir o ónus de suscitar outro. Tudo isto faz recear que uma opção pelo candidato Nóvoa, tomada por uma decisão formal do PS, daqui a algum tempo, não seja seguida por uma parte do seu eleitorado, incomodada pelo método autocrático da escolha e pouco identificada afetivamente com ela. Se isso acontecer, fica à mostra o erro político cometido. Enquanto eleitor preciso de ver por completo apagada a dúvida, criada por Nóvoa, quanto ao seu próprio desígnio.

    A direita anda nervosa, com a suposta ameaça de avançar com Rui Rio armado em 7º de cavalaria, com o "meio caminho andado", Marcelo Rebelo de Sousa ou a “reserva moral”, Mota Amaral, são sintomáticos que Nóvoa incomoda. Neste ponto considero que Marcelo Rebelo de Sousa não se candidatará, pois por muito popular que seja colou-se à imagem de comentador do regime e esse é o lugar que gosta de ocupar.

    Neste contexto, e como já aqui escrevi, o meu candidato, seria Manuel Carvalho da Silva. Um candidato digno do lugar, que ilustraria com honra, competência, integridade, que procede do mundo do trabalho, é culto e representaria uma esquerda que não deslustraria o mais alto cargo da nação. Mas, aparentemente desistiu.

    A candidatura de Guilherme d'Oliveira Martins encontra eco no texto de Joaquim Alexandre e, embora não fosse o meu primeiro candidato, reconheço que é um homem culto, honrado, sério, sensato, tem experiência política e ocupa uma posição mais ou menos central no espectro político. Sabe o valor da Língua Portuguesa, da Economia, do rigor, do combate à mediocridade e ao facilitismo, da solidariedade e da importância da tolerância e da preservação dos laços sociais e do bem comum, da igualdade e do acesso ao conhecimento.

    António Costa, falta um ano para as presidenciais e faltam, só, seis meses para as legislativas. Falta “construir o futuro”!

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