Circunstâncias

Fotografia de Lee Friedlander


Há uma voz antiga atrás da minha
e outra mão se prende na cortina

e afasta os reposteiros dessa luz
que ao puro esplendor logo conduz.

Se a voz que aqui retenho se faz presa
da própria escuridão que viu acesa,

é que outra voz se perde sem saber
que a minha voz a busca para morrer.
Luís Filipe Castro Mendes



Comentários

  1. Circunstâncias (da vida)

    “Há uma voz antiga atrás da minha” - Luís Filipe Castro Mendes

    Circunstâncias da vida levam-me a recordar o 13 de fevereiro de 1965, 50 anos depois do assassinato do General Humberto Delgado.

    Circunstâncias da vida levam-me a recordar o meu avô paterno e o seu espírito republicano, de luta e camaradagem.

    Circunstâncias da vida levam-me a recordar a caixa (seria de sapatos?) onde ele guardava (nunca consegui descobrir o local) material da campanha de Humberto Delgado. Levam-me a recordar os momentos em que abria a caixa e ia retirando um papel de cada vez e contava o contexto em que cada um tinha sido produzido, colado, distribuído ou lido. Para um miúdo de onze, doze anos eram momentos que superavam qualquer leitura do “Sandokan”….

    Circunstâncias de vida que permitiram que tivesse assistido a episódios da crise académica de 69 (Coimbra) e que, já um jovem de quinze anos, me fizessem perguntar, questionar, indagar dos porquês do que via, lia e ouvia (rádio Voz da Liberdade/Argel).

    Circunstâncias da vida que permitiram, já adulto, tivesse tido a sorte e o privilégio de conhecer e falar com pessoas que estiveram na organização da passagem de Humberto Delgado por Viseu (campanha de 58), de ter acesso a fotografias (fantásticas) do apoio popular no Rossio, do célebre discurso que proferiu da varanda do Hotel Avenida (Viseu) e do comício nocturno.

    Circunstâncias da vida que coincidiram, no feliz acaso, de ter travado conhecimento com a Drª Iva Delgado, filha do general.

    Circunstâncias da vida que me levam a louvar a decisão da Câmara Municipal de Lisboa que, por unanimidade, decidiu baptizar o aeroporto de Lisboa com o nome do general Humberto Delgado.

    Circunstâncias da vida, através de leituras e conversas, levam-me a pensar que se Humberto Delgado não era um estratego político, com objectivos difusos e até controverso, continua a incomodar. Incomodou as forças da situação (Salazar) e uma oposição que o apelidou de “General Coca-Cola” (recordar a sua passagem pelo Canadá e EUA em funções profissionais). Hoje continuaria a incomodar os "politicamente correctos" com o seu espírito de homem corajoso e, certamente, apontaria o dedo a muitos políticos dizendo-lhes: ”Demito-o, obviamente!”

    Circunstâncias da vida levam-me a que no dia 13 de Fevereiro de 2015 preste homenagem a um homem corajoso!

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