O poder de A sobre B *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro



1. Pela maneira como foram organizadas, as primárias do PS tinham tudo para correrem mal mas correram bem. Nunca tivemos um "selectorado" tão grande — foram 174 770 a votarem na escolha do novo líder do PS. É um marco na terceira república.

A esquerda à esquerda do PS não percebeu nada. Jerónimo de Sousa apelidou estas primárias de "farsa". Por sua vez, depois de ter perdido as franjas urbanas que lhe davam algum perfume, o bloco agora nem tuge nem muge.

Já o PSD e o CDS, depois de meses a torcerem por Seguro, fazem agora contas de cabeça. A vitória que tinham como certa nas legislativas em 2015 é ainda possível mas é mais difícil. Têm, claro, um trunfo forte: repetir até à exaustão a fórmula «Costa = Sócrates = bancarrota».


Fotografia de Manuel Fernandes para o Jornal de Negócios (aqui)
António Costa já se demarcou do desastre feito por Maria de Lurdes Rodrigues nas escolas e criticou a anterior política de obras públicas, mas continua rodeado de zombies socráticos. O balanço do autoritarismo negocista socrático, com as suas misérias e as suas grandezas, devia ter sido feito em 2011. António José Seguro não teve golpe de asa para isso. Costa ou o faz agora ou perde as próximas legislativas.


2. O resultado obtido por Seguro em Resende — 89,3% — é tão estapafúrdio que merece análise. É evidente que os socialistas resendenses só se enfiaram naquele beco-sem-saída porque tal lhes foi pedido pelo seu carismático líder, António Borges.

Robert Dahl, em “O Conceito do Poder”, explica: «A tem poder sobre B na medida em que pode levar B a fazer algo que, de outro modo, ele não faria.»

Em 2013, António Borges teve o poder sobre o simpático povo de Resende para o levar a eleger um presidente de câmara fraquinho. Nas primárias de domingo, António Borges usou o seu poder para levar Resende àquele desastre político que não ajuda nada o futuro do concelho.

É caso para perguntar: depois de quantos erros é que A perde o poder sobre B?

Comentários

  1. Hoje faço um comentário labrego: foi um Festival de Marisco e sobremesa com fatias de Resende.
    Um fartote!

    ResponderEliminar
  2. O texto do Jornal "perde" para a rapidez do "reenconto" de camaradas onde os srs Álvaros Belezas e Cª se revelam mestres na arte da fuga para a frente.
    O cheiro a poder dá o tempero da unidade.
    Admirável!

    E já agora leiam a entrevista dada por Rita Rato (jovem deputada do PC) ao Correio da Manhã de 2 de Outubro.
    "OMO" lava sempre mais branco....

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Achei esta de 2009
      http://www.cmjornal.xl.pt/domingo/detalhe/nunca-tive-problemas-em-ser-levada-a-serio.html

      A Rita Rato não sabe o que foram os gulags
      :P

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares