Alemanha *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro

Qual das duas eleições de Setembro é mais importante para Portugal: as da Alemanha a 22 (onde Angela Merkel vai ganhar), ou as nossas autárquicas a 29 (onde Seguro, ou tem uma vitória clara, ou é melhor mudar de emprego).

Na minha análise, as nossas autárquicas são muito mais decisivas para o nosso país, apesar dele se encontrar nas mãos dos credores. É que os fundamentais da política germânica não mudam numas eleições.

Num ensaio publicado na última The New York Review Of Books, Timothy Garton Ash descreve a "banalidade do bem" alemã. A Alemanha tem um sistema institucional descentralizado, cheio de "pesos" e "contra-pesos", com um banco central e um tribunal constitucional poderosos, o que obriga os políticos ao compromisso, e que funciona como vacina contra o regresso de populismos totalitários que tanto dano causaram à Alemanha e ao mundo.


Passaram vinte e três anos sobre a reunificação alemã. Vamos continuar a ter uma Alemanha burguesa, liberal e moderada, e relutante em assumir o papel de liderança da "Europa". As caricaturas de Merkel com bigodinho ou capacete nazi, comuns nas manifs dos países corruptos do Mediterrâneo, são um disparate. Quem souber um mínimo de história, perceberá a importância desta declaração de 2011 de Radek Sikorsky: "Vou ser provavelmente o primeiro ministro dos negócios estrangeiros polaco na história a dizer isto, mas aí vai: receio menos o poder alemão do que começo a recear a inactividade alemã." 

A "Europa", comandada por um barrosal pigmeu, precisava de um eixo franco-alemão a funcionar tão bem como no tempo de Kohl e Miterrand, um eixo capaz de introduzir democracia no monolito burocrata de Bruxelas. Não é provável que aconteça algo nesse sentido. Mas o problema não estará em Merkel, mas sim no patético Hollande e no tradicional imobilismo auto-convencido da política francesa.

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