Lincoln *

* Publicado hoje no Jornal do Centro

1. No seu livro “Maus Samaritanos – O Mito do Livre-Comércio e a História Secreta do Capitalismo”, Ha-Joon Chang chama a atenção que tanto se pode dizer “Lincoln, o Libertador” (pelo seu papel na libertação dos escravos) como “Lincoln, o Protector” (ele protegeu sempre as manufacturas dos estados do norte, tendo criado as mais altas taxas aduaneiras da história do seu país).
     
Os estados do norte defendiam a protecção da indústria e a distribuição de terras públicas nos novos estados do oeste, políticas que tinham a oposição dos estados agrários do sul que precisavam de livre-comércio para venderem os seus produtos e temiam uma reforma agrária.
     
Foi esta fractura política, mais do que a escravatura, que levou à guerra civil americana, iniciada e resolvida durante os mandatos de Abraham Lincoln.

2. Lincoln foi o primeiro presidente norte-americano a ser assassinado. A sua longa vida política foi interrompida aos 56 anos por uma bala. Como é sabido, o filme de Steven Spielberg — agora em exibição e que está nomeado para 12 óscares — foca-se só na aprovação da 13ª emenda constitucional que aboliu a escravatura e conta a história daquilo que foi preciso fazer para conseguir os votos necessários.
     
Este filme está a ser profundamente analisado em todo o mundo. Aqui, só quero chamar a atenção para um aspecto que ainda não vi sublinhado em lado nenhum: a 13ª emenda só passou porque a mulher de Lincoln o obrigou a ir, ele próprio, arranjar os votos que faltavam, fosse de que maneira fosse. E porque, quando foi necessária contenção na língua afiada do radical anti-esclavagista Thaddeus Stevens, ...

Saia um óscar para o fabuloso Tommy Lee Jones!

... este não respondeu às provocações porque tinha um prémio secreto à sua espera: mostrar a acta daquela votação histórica à noite, na cama, à sua mulher negra.
     
O mundo, um enorme matriarcado.

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