Grécia — "yaourtoma", Portugal — "ovotoma"

     Como é sabido, na Grécia pratica-se, há décadas, o "yaourtoma", uma forma de protesto político que consiste no arremesso de iogurtes a vips.
     Ora, desde que Pedro Passos Coelho veio tirar 7% dos salários dos trabalhadores para os dar aos empresários, a febre social em Portugal aumentou muito, e a pulsão para a "acção directa", desenquadrada, "desperada", cresceu exponencialmente.
     Apesar dos ratios macro-económicos dizerem o contrário, o facto é que, desde sexta-feira, Portugal aproximou-se perigosamente da Grécia, isso é uma coisa evidente, mas que não cabe nas formulações abstractas e no quadro mental dos tecnocratas Gaspar e Borges, os perigosos gurus do primeiro-ministro.

Ontem, a ministra da agricultura, Assunção Cristas, escapou por pouco ao arremesso de um ovo.
O arremesso de um ovo, o "ovotoma", pode ser visto como o equivalente, em Portugal, ao "yaourtoma" na Grécia.

      Sinais destes já existem há meses, este blogue em devido tempo exprimiu a sua preocupação, mas desde sexta-feira há muito mais risco de acontecerem actos como o de ontem em Santarém.
     Já só há dois dias para apelar à mobilização, à firmeza mas também à moderação dos manifestantes do próximo sábado. Isto está perigoso. O país está a ferver e as instituições muito fragilizadas. Precisa-se de cabeça fria e não dar ouvidos aos incendiários sociais. Para engenharias deste tipo, chega-nos o Borges e o Gaspar.
     É que, como se sabe, mesmo um "cisne negro", na sua imprevisibilidade, precisa de um ovo para nascer.

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