A febre da república *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro

     A primeira república durou 16 anos. A segunda salazarou-se durante 48 anos até 1974. A terceira república, que nos governa, vai em 38 anos e está doente e com febre alta.
     O país é, neste momento, um protectorado nas mãos dos credores. Os mais inconformistas estão a emigrar. Um estudo recente diz que já só 56% dos portugueses consideram que "a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo".
     Desconfia-se das instituições e essa desconfiança atinge até o próprio presidente. Esta periclitância do regime é conhecida dos estados maiores dos partidos embora não o digam em público. Era muito importante uma revisão constitucional que, pelo menos, assegurasse:
     um mandato presidencial de sete anos não renovável (agora, nos primeiros mandatos, os presidentes pensam mais na sua reeleição do que no país);
     redução do número de deputados e proibição do exercício do cargo em part-time;
     permitir eleições e referendos em simultâneo e acabar com os prazos bizantinos à volta das eleições e da formação de novos governos (em 2010, o país apodreceu de PEC em PEC à espera das presidenciais).
     Se nada for feito, a terceira república pode acabar. Basta, numas eleições presidenciais, aparecer um candidato anti-sistema, com uma agenda anti-corrupção, uma retórica de sobressalto nacional e a defender um regime presidencialista.
     Há risco de isso acontecer em 2016 ou até mesmo antes se Cavaco, que nunca teve grande resistência psicológica, resignar. 




Só para 
dar um exemplo: Marinho Pinto é, caso 
o queira, 
capaz de corporizar 
esta 
proposta 
de ruptura 
e ter 
um 
fortíssimo impacto eleitoral 
numas presidenciais.




     Será que Passos Coelho e António José Seguro percebem que devem divergir o mais possível nas políticas mas porem-se de acordo na necessária reforma da terceira república?

Comentários

  1. Concordo com a análise, e se bem que tenha tomado parte nos gloriosos dias a seguir ao 25 e no 25 de Nov, a verdade é que são já tantos os crápulas que estou a começar de concordar com a Manuela.
    Talvez um interegno na democracia fizesse regressar aqueles que o país precisa e tiveram que imigrar, e ao mesmo tempo pusesse esses vilões fora da Pátria.

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    1. Caro anónimo,
      como se percebe, defendo a manutenção do semi-presidencialismo (por causa do péssimo exº do miterrandismo e sarkozismo) e defendo a manutenção da ordem constitucional;
      creio que, se nada for feito por PPC e AJS, a terceira república poderá ter problemas institucionais agudos e correr riscos de ruptura (que acho nefastos).
      Cumprimentos

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  2. O número de deputados não é o cerne da questão. As soluções propostas no texto acima são positivas, mas não atacam a raiz problema que é a ausência de ESCRUTÍNIO no voto. O nosso sistema de listas fechadas sem voto nominal impede os votantes de expressar preferências dentro duma lista de candidatos dum partido. Não podem escolher pessoas - logo, não há escrutínio. A ordem dos candidatos é imposta à partida, o que faz com que haja dezenas de "lugares elegíveis" para os maiores partidos. Esses lugares garantidos tornam os caciques partidários impossíveis de desalojar do parlamento pela via dos votos. Vivem perpetuamente blindados contra o escrutínio dos eleitores e livre para dispor e abusar do País - que é o que têm feito, sem tirar nem por. Sugiro que pesquisem na Net a frase exacta "casa da partidocracia".

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    1. Concordo com o que diz acerca do défice de escrutínio dos deputados. Cumprimentos

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