A verdade dos números *

* Texto publicado hoje no Jornal  do Centro


1. Quando, em Abril, o PS fez em Matosinhos o último congresso de José Sócrates ...


... escrevi aqui nesta coluna: “este congresso é a véspera de um outro que vai ser bem mais amargo que este. Espera-se que seja menos albanês.” 
     
Assim aconteceu. António José Seguro teve agora o seu congresso em Braga. Foi um fim-de-semana amargo mas não albanês. Houve duas listas para a comissão nacional e desapareceram as vergonhosas votações acima de 90%.


O aparelho que em Abril bradava: “estou contigo, Zé!”, diz agora, impertubável e com a maior cara de pau: “estou contigo, Tó Zé!”.
      
Nada disso deve causar estranheza. Como se tem visto, a vontade dos partidos portugueses não se constrói das bases para a cúpula mas sim da cúpula para a base. 
     
O PS tem agora um líder preocupado com a corrupção e a mistura entre a política e os negócios e que fala de um “código ético” para os eleitos socialistas — assuntos que eram tabu absoluto no tempo de José Sócrates todo virado para o negocismo.
     
Seguro tem dois grandes desafios pela frente:     
(i) não ser transformado no Marques Mendes do PS, chutado fora na primeira oportunidade;     
(ii) ganhar as eleições autárquicas de 2013.
     
O segundo desafio é menos difícil que o primeiro. 

     
2. Todos o anos é anunciado que se bateu o record de visitantes na Feira de S. Mateus. O número de visitantes do último ano é sempre melhor que o do penúltimo. Esta “inflação” atirou as coisas para uns inverosímeis sete dígitos.
José Moreira **



Caro José Moreira, novo presidente da Feira, quando for feito o balanço do certame deste ano, por favor também aqui se pede um fazer diferente. 
     
É que, como é evidente, só há um número incontroverso para se medir a afluência, só há um número que interessa: o número de bilhetes vendidos.



** Fotografia de Nuno Ferreira estragada por este blogue num editor de imagem.

Comentários

  1. Bom dia

    Concordo plenamente com a sua análise do congresso do PS e do que poderá ser AJS para o PS.

    Quanto á feira, como vocÊ já disse o Dr.Moreira será melhor que o veterano director da feira que entretanto deixou de ser director da mesma.

    Apesar de ser de Viseu, poucas vezes tenho aparecido na nossa cidade mas mantenho me informadissimo do que se la passa.

    Fui à feira de São Mateus no dia 3 de Setembro e fui o visitante nº179000 e não sei quantos.(ao inicio da tarde de domingo). Tendo em conta que faltavam vários dias pagos para acabar a feira acho que são vao ultrapassar os 225000 que foram comunicados para a feira de 2010.

    Quanto a um estimativa viavel, não é preciso fazer grandes contas e fazer uma media da afluencia dos dias pagos e colocar mais 5 a 10% nos dias não pagos e terá uma estimativa dos da afluencia que terá tido a feira.

    Cumprimentos

    Ricardo Marques

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  2. Caro Ricardo Cosme:
    Obrigado pelo seu comentário.
    Na questão da afluência à Feira de S. Mateus tentei dizer que:
    1. número de bilhetes vendidos é um indicador fiável;
    2. qualquer outro número que integre os dias não pagos usa a metodologia do "olhómetro" e, por conseguinte, não é fiável.

    Já agora, solicito ao S. Pedro para que nos dê bom tempo para amanhã para os Nouvelle Vague (vou ver com curiosidade qual é o ordinal do bilhete).
    ;)

    Cumprimentos

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  3. Como sempre uma radiografia perfeita do actual PS!

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  4. Porque é que eu discordo da opinião do Joaquim Alexandre?...
    José Sócrates obteve nas directas uma votação na casa dos 90% e Seguro obteve uma votação na casa dos 70%. José Sócrates tem o carisma que falta ao Seguro e só isso não permite uma diferente conclusão de que os resultados são equiparáveis. Contra José Sócrates não concorreu ninguém que estivesse à altura enquanto que contra o Seguro concorreu Assis que para além de ter um discurso bem estruturado têm um pensamento politico de qualidade.
    A votação de 70% de Seguro em nada difere dos 90% de José Sócrates a não ser na qualidade do adversário… Assis é um excelente político.
    Não me parece por isso que se possa concluir que o Congresso de Braga tenha sido menos albanês que o congresso de Matosinhos. Afinal de contas os albaneses que votaram em José Sócrates são praticamente os mesmos albaneses que votaram em Seguro… por outro lado os sindicatos de votos são uma prática política enraizada no PS e de que Seguro se valeu para ser eleito.

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  5. Cara Otília Gradim:
    Muito obrigado pelo seu comentário.

    Como poderá conferir no feed-back do post com o título Notícias da Albânia #2: http://joaquimalexandrerodrigues.blogspot.com/2011/03/noticias-da-albania-2.html
    já há meio ano eu sentia que, aos poucos, a qualificação "albanesa" para tipificar eleições em que os resultados se aproximam dos 100% vai perdendo universalidade (pouca gente se lembra da Albânia de Enver Hoxha, nem os seus admiradores de então do PCR e da UDP — boa nutrida parte deles agora no bloco).

    O facto é que engalinho chamar-lhe "eleições coreanas" e, enquanto não encontro outra designação, hei-de continuar a chamar "albanesa" a uma votação a rodar os 100%.

    O unanimismo decorrente de votações desta ordem de grandeza só dizem uma coisa: a organização onde elas ocorrem está em péssima forma democrática.

    Indo ao ponto que interessa:
    AJ Seguro devia ter ido a votos ontra Sócrates para o Congresso de Matosinhos, como não foi, teve falta de comparência. Escrevi isto logo na altura, como verá no post linkado.

    Faria muita diferença Seguro ter ido a votos então? Não tenho a certeza. Talvez fizesse. Talvez não.
    Penso que era bom ter-se mostrado às pessoas que o PS não era só a catatonia do socratismo final.

    Talvez largos milhares de votos de eleitorado que sempre votou socialista não tivessem ido directos para o PSD.

    O congresso de Matosinhos foi delirante.

    O congresso, na sua encenação e coreografia, teve momentos que pareciam saídos da cabeça de Leni Riefenstahl e é uma nódoa na história do partido da liberdade que é o PS.

    O PS, com a sua concepção estratégica de demonização do adversário e de construção de um quadrado defensivo conservador, — "Defender Portugal" — atirou-se a si próprio para o pior resultado dos últimos 24 anos.

    AJ Seguro tem uma tarefa muito difícil.
    Foi-lhe fácil derrotar Assis no debate na SICn, foi-lhe fácil ir buscar o apoio do aparelho que já só pensa nas autárquicas de 2013, mas vai-lhe ser difícil liderar de uma forma consistente a oposição e, ainda por cima, o seu inner-circle é politicamente muito frágil.

    Enfim! É da vida! — como dizia o saudoso engenheiro.

    Cumprimentos

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  6. Caro Ricardo Cosme:
    O "método" de contagem via ordinal dos bilhetes de ingresso na Feira de S. Mateus não funciona:

    — em 3 de Setembro, o Ricardo comprou o bilhete com o número ±179000;
    — hoje, 17 de Setembro, comprei o bilhete com o nº 155 261.

    Andou para trás.
    Cumprimentos

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