Soneto para uma voz

Fotografia de Bruce Davidson

Nem tenho paz nem como fazer guerra,
espero e temo e a arder gelo me faço,
voo acima do céu e jazo em terra,
e nada agarro e todo o mundo abraço.



Tem-me em prisão quem ma não abre ou cerra,
nem por seu me retém nem solta o laço,
e não me mata Amor, nem me desferra,
nem me quer vivo ou fora de embaraço.



Vejo sem olhos, sem ter língua grito,
anseio por morrer, peço socorro,
amo outrem a mim tenho um ódio atroz,



nutro-me em dor, rio a chorar aflito,
despraz-me por igual se vivo ou morro.
Neste estado, Senhora, estou por vós.

Francesco Petrarca, 
tradução de Vasco Graça Moura

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