A esquerda

* Texto publicado na edição de hoje do Jornal do Centro.


     As ondas de choque da crise sistémica global, iniciadas no outono de 2008 com a falência do Lehman Brothers, estão a dizimar a esquerda europeia em geral e a esquerda portuguesa em particular.
     Depois das eleições do último domingo, já não é possível disfarçar a crise profunda da esquerda. O PS, exangue, caiu abaixo dos 30%; o bloco está ligado às máquinas e com o líder grudado ao lugar; o PCP segura posições enquanto anuncia a “rua”. Só que a “rua” vai encher-se de gente desesperada com as medidas da Troika e a “rua” vai fugir ao controle comunista.
     José Sócrates não percebeu o tsunami que vinha aí e passou dois anos e meio mergulhado em pensamento mágico: “execução orçamental histórica”, “queda do défice recorde”, “este PEC é que é”, “energia positiva”. Tivemos dois anos e meio em que Vilar de Perdizes viveu em S. Bento. Chegámos à beira do precipício.
     Sócrates, por ele, ainda olharia mais uns tempos para as entranhas de uma galinha preta, foi Teixeira dos Santos que no dia 6 de Abril, em e-mail para o Jornal dos Negócios, tratou de fazer o que tinha de ser feito e anunciar o resgate. Teve 78 mil milhões de razões.
     Dois meses depois, após uma campanha confrangedora designada “Defender Portugal”, o PS está em cacos.
     No início de Abril — antes do congresso de Matosinhos, o último de Sócrates — previ aqui nesta coluna: “este congresso é a véspera de um outro que vai ser bem mais amargo que este. Espera-se que seja menos albanês. O partido fundado por Mário Soares precisa de ser reconduzido aos seus valores matriciais: a liberdade, a defesa dos mais fracos e a independência perante o poder económico.”
     Assim se espera: para bem da esquerda e para bem do país.

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